No cenário mundial atual não é nenhuma surpresa falar sobre as mudanças nas interações sociais. A necessidade do distanciamento, entre outros cuidados com a higiene, nos fez questionar vários hábitos e verdades intrínsecas no nosso dia a dia e como isso afetará o futuro das nossas ações. As pessoas estão em fase de transição e aprendizado, mas como isso se reflete na arquitetura e na forma que vemos e criamos os espaços?
Dos sistemas de saneamento básico à existência dos azulejos nos banheiros, o design, a arquitetura e o urbanismo sempre foram moldadas pela necessidade de transformação em épocas de crise. A primeira grande epidemia a deixar vestígios significativos foi a peste Bubônica, século XIV, que atingiu a curva descendente após mudanças na higiene e saneamento, freando a proliferação de ratos disseminadores da doença. Em um histórico mais recente, foi no início do século XX, durante a Gripe Espanhola, que foi criado o conceito das normativas da construção civil que utilizamos hoje. Leis estipularam regras de iluminação, insolação e ventilação nos ambientes como forma de prevenir a disseminação de doenças.
Com novos protocolos sociais em vigor, fica a dúvida sobre quais serão os impactos de longo prazo na arquitetura. Devido a necessidade do distanciamento e isolamento social fica evidente que espaços amplos e com menor densidade serão essenciais para o futuro da convivência e saúde da população. Entretanto, algo que vem causando grande inquietação é a velocidade da transformação e a incerteza da forma com que os espaços vão ser utilizados. A separação entre lugares antes tão distintos como o de trabalho, casa ou lazer pode não ocorrer mais, pondo em risco tendências de design que eram apostas para o futuro recente de grandes empresas.
Nos últimos anos, o número de Condomínios Club vem crescendo nos grandes centros. Porém investir em apartamentos com a metragem privativa reduzida e grandes áreas de convívio, onde o conceito principal é a interação entre os vizinhos, pode ser visto quase como “remar contra a maré”, ou seja, esse pode não ser mais o rumo do mercado imobiliário residencial.
Outra questão significativa são as novas funções e atividades das habitações. Muitos especialistas em design já estavam prevendo a mudança do local de trabalho. Com novos empregos voltados para a tecnologia a projeção para os próximos 10 anos era que o trabalho remoto aumentasse consideravelmente e que essa transição do ambiente de trabalho aos poucos fosse transferidos para homeoffice.
Entretanto essa timeline foi encurtada pela pandemia, obrigando a todos a se adaptar e reavaliar suas reais necessidades e valores. Portando é possível que seja necessário repensar a forma como habitamos e que haja um retrocesso no conceito de metro quadrado privativo. Em outras palavras, devido ao alto valor dos imóveis nos centros urbanos as residências foram se tornando cada vez mais compactas e as pessoas se acostumaram a passar mais tempo fora de casa. Agora, é possível que as pessoas busquem espaços maiores, mudando o tamanho e projeto dos apartamentos e casas e consequentemente o padrão de compra de imóveis.
Com essa mudança de hábitos e preferencias, como isso pode se refletir na cidade como um todo? O primeiro quesito a ser observado o afastamento das zonas centrais em busca de mais espaço e qualidade de vida. Muitas pessoas optam por morar próximos ao seu trabalho para evitar o tempo perdido no deslocamento diário. É provável que ocorra uma descentralização, espalhando assim a densidade de uma forma mais uniforme.
Essa busca por áreas mais arborizadas e de maior qualidade de vida vai aumentar o comércio nos bairros mais afastadas, e possivelmente transformando algumas áreas urbanas em regiões independentes em relação a comercio e serviço. Sendo uma boa oportunidade para pequenos negócios e empresas se desenvolverem.
Lógico, estamos todos torcendo que logo tudo volte ao normal, mas qual vai ser o novo normal? Qual vai se tornar o novo padrão de design e arquitetura que englobaremos no nosso cotidiano? As cidades, as pessoas e os negócios estão se adaptando a uma nova realidade e é evidente que ao longo dos próximos anos a tecnologia e a nova organização dos espaços vai trazer rotinas e ambientes diferenciados, visando principalmente a saúde e bem-estar dos seus usuários.
Fica o convite à reflexão!
Comentários: