
O programa Minha Casa, Minha Vida (MCMV), relançado pelo Governo Federal com mais incentivos nos últimos anos, continua sendo uma das principais apostas para reduzir o déficit habitacional no Brasil. Mas, longe dos números oficiais e das campanhas institucionais, fica a pergunta: será que o programa funciona mesmo na prática?
O que funciona bem no programa?
Milhares de famílias brasileiras desejam sair do aluguel e têm o sonho de ter a casa própria. Programas como Minha Casa Minha vida vêm em auxílio a essas famílias, garantindo um teto para chamar de seu e atender a essa demanda reprimida. Existe uma demanda real e crescente por imóveis.
Nesse sentido, os incentivos governamentais são importantíssimos. Os subsídios disponibilizados (especialmente para faixa 1) e a possibilidade de utilização do FGTS são os grandes garantidores para as famílias de baixa renda.
O programa também tem o benefício de estimular a produção e com isso movimentar a cadeia da construção civil, que gera empregos e sustenta a base da pirâmide do mercado imobiliário.
Mas o que limita o acesso ao programa?
Apesar das vantagens, o acesso ao programa ainda contém entraves importantes, especialmente quando a burocracia, o aumento constante do valor dos imóveis (crescem mais que a capacidade de compra) e o desconhecimento a respeito dos custos da operação.
Com relação a parte burocrática, muitas famílias não conseguem aprovação de financiamento por falta de documentação adequada, comprovação de renda ou por ter o nome negativado em órgãos de proteção do crédito.
Com relação aos custos, mesmo obtendo o subsídio governamental, o valor dos imóveis é alto, especialmente nas capitais e regiões metropolitanas. O aumento do valor em razão da valorização dos imóveis cresce mais rápido que a capacidade de pagamento das famílias.
O cenário de Selic alta também não ajuda. Quanto mais altos os juros, mais difícil manter em dia o pagamento das parcelas do financiamento. Sabendo disso, mais cautelosos estão os agentes financiadores, dificultando a concessão do crédito.
Visão do mercado imobiliário em 2025
Segundo especialistas e entidades como a CBIC, o Minha Casa, Minha Vida é essencial para manter o ritmo de vendas e lançamentos no país. Em muitas cidades, ele representa a maior parte das negociações imobiliárias.
No entanto, o programa está longe de resolver o déficit habitacional. A escassez de terrenos bem localizados para Faixa 1 e 2, somada à demora nos processos e exigências legais, prejudica a entrega de unidades.
Outro ponto que causa preocupação é a falta de recursos para apoio ã construção. A Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) alertou, em junho de 2025, que mais de 80% dos recursos destinados ao apoio à produção no programa Minha Casa, Minha Vida — linha de crédito voltada para construtoras viabilizarem novas unidades habitacionais — já foram contratados em 2025, o que gera risco de paralisação nas contratações a partir de julho.
Superintendências regionais da Caixa Econômica Federal já relatam falta de verba disponível, o que pode comprometer a continuidade de obras, a geração de empregos e o atendimento da demanda habitacional nas faixas de renda mais baixas. O setor pede o destravamento imediato dessa linha de financiamento para não interromper a cadeia produtiva da construção civil.
O que dizem os corretores?
Na prática, corretores relatam uma grande procura pelo MCMV, mas com baixa taxa de aprovação. Mesmo famílias com perfil de renda adequado enfrentam dificuldades para obter o crédito aprovado.
Avanço importante, mas não é solução definitiva
O Minha Casa, Minha Vida é um dos pilares para fomentar o acesso à moradia no Brasil e sustenta boa parte do mercado popular de imóveis. No entanto, é preciso reconhecer suas limitações.
Para que o programa funcione plenamente, é fundamental desburocratizar o acesso ao crédito, garantir subsídios mais acessíveis, controlar o aumento dos preços dos imóveis e ampliar a inclusão financeira das famílias de baixa renda.
Com isso, o sonho da casa própria pode sair do papel para muito mais brasileiros.
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